Guerra de Canudos: Causas e consequências
Durante os primeiros anos da República, entre o final do século XIX e o início do século XX , a população manifestou sua insatisfação com as terríveis condições de vida, a opressão do governo com impostos e a miséria. O movimento popular que resultou na Guerra de Canudos é baseado no Messianismo ou Movimento Messiânico - no qual um líder central comanda o povo e é respeitado tão qual um messias ou um santo.
No final de 1800 o que se via no sertão nordestino eram trabalhadores desempregados aos milhares, as grandes fazendas empregavam pouco e os salários eram baixos. A situação se agravava ainda mais no período da seca.
Figura: um dos muitos casebres de Canudos. |
Em meio a este cenário surge o cearense Antônio Vicente Mendes Maciel ou popularmente conhecido como Antônio Conselheiro. Enfrentou dificuldades com a família quando jovem, fracassou no comércio e no matrimônio e decidiu peregrinar pelo sertão fazendo pregações, reformado igrejas e arrebatando seguidores.
Ao contrário do que muitos afirmam Antônio Conselheiro tinha bom trânsito no meio eclesiástico e mesmo não sendo padre foi lhe permitido em algumas ocasiões pregar dentro de igrejas.
Causas da Guerra de Canudos
Em 1893 Antônio Conselheiro queimou os papéis dos impostos mandados pelo governo e começou a ser perseguido pela polícia. Após peregrinar por todo o sertão decidiu estabelecer seu povo em Canudos em 1893, chamando a pequena vila de Belo Monte.
Entre 1893 a 1897 mais de 30.000 sertanejos se juntaram a ele. Canudos era o sonho aqui na terra. Não havia patrões, ricos ou pobres. Tudo era dividido por igual.
Este movimento de pessoas indo começou a perturbar os latifundiários que viram sumir as feiras e a mão de obra barata. Começaram a cobrar atitude das autoridades.
Precisavam de uma justificativa para eliminar Canudos. E ela chegou da seguinte forma: Antônio Conselheiro estava construindo no Arraial de Canudos uma nova igreja mais ampla e comprou e pagou a madeira para o telhado. Não se sabe por qual motivo o comerciante não entregou a madeira. Os conselheiristas (assim chamados os seguidores de Antônio Conselheiro) prometeram ir buscar pessoalmente a madeira. O juiz da localidade enviou um contingente da policia da Bahia para interceptá-los. Foi um massacre. Os sertanejos avançaram com foices, facões e paus sobre a policia que mesmo com poucas baixas bateu em retirada. Esta é a causa inicial da Guerra de Canudos , onde literalmente começa a guerra.
Vale ainda pontuar que Antônio Conselheiro defendia a Monarquia como um direito divino instituído por Deus e a República (que depôs a Monarquia) era o anti-cristo, o inimigo de Deus.
Entre 1896 a 1897 as tropas federais fizeram três tentativas de arrasar Canudos. A derrota da terceira expedição Militar causou estardalhaço no povo da capital (Rio de Janeiro) pois nela veio a falecer o Coronel Moreira César, considerado um ícone republicano. Exigiam do governo uma reação imediata.
Figura: Soldados defendendo a peça de artilharia conhecida como "matadeira" do ataque dos conselheiristas. |
Somente a quarta e última expedição com mais de 7.000 homens e comandada pelo próprio ministro da guerra é que Canudos foi cercada em 24 de setembro e dominada totalmente em 5 de outubro de 1897 quando caíram seus últimos defensores.
Conselheiro não foi morto pelos soldados. Ele já havia falecido alguns dias antes vítima de uma disenteria (outra versão diz que foi ferido por um estilhaço de granada). Seu corpo foi descoberto e desenterrado pelos soldados e após fotografado, teve a cabeça cortada para ser levada para estudos (ou como um bizarro troféu de guerra).
Figura: Moradores de Canudos - esta foto foi tirada pelos soldados de alguns moradores que se renderam voluntariamente. A maioria desta foto foi degolada posteriormente. |
Consequências da Guerra de Canudos
- O Governo brasileiro ficou mal visto devido a prática de genocídio. Vários moradores de Canudos que se renderam foram mortos na chamada "gravata vermelha" ou popularmente falando, degolados.
- Várias pessoas morreram durante a guerra, houve inúmeras baixas também militares. Muitos soldados morreram de doenças típicas da região.
- O governo havia prometido moradias na capital do Brasil para alguns soldados que servissem na guerra. Como a promessa estava demorando a sair eles se estabeleceram onde hoje é o Morro da Providência no Rio de Janeiro em casebres mal construídos e pobres. Começaram a chamar o local de Favela, devida a semelhança com o Morro do Alto da Favela onde foram travadas batalhas em Canudos. Favela é nome típico de uma planta do sertão.
- O coronelismo e o latifúndio fortaleceu seu poder após Guerra de Canudos;
- O governo gastou muitos recursos com a guerra: envio de tropas, suprimento, munições, etc. Isto abalou as finanças da recém criada República.
- Alguns anos após o término da guerra decentes dos conselheiristas e outras pessoas se estabeleceram em Canudos e construíram uma cidade nova. O Governo militar tratou de exterminar mais uma vez Canudos do mapa em 1969 com a criação no local do açude de Corobó.
- A cabeça de Antônio Conselheiro permaneceu na Faculdade de Medicina da Bahia onde permaneceu até 1905 quando foi destruída por um incêndio. Acreditava-se na época que era possível constatar a loucura através do estudo do crânio.
Figura: foto tirada por soldados do corpo de Antônio Conselheiro antes do mesmo ser decapitado. |
Exercícios para uso em sala de aula.
- Quais as causas da Guerra de Canudos?
- Quem foi Antônio Conselheiro?
- Como o governo destruiu Canudos?
- Quais as consequências da Guerra de Canudos?
Atividade: Debate em sala de aula.
Dividir a classe em dois grupos. O primeiro deve apresentar argumentos a favor de Antônio Conselheiro e contra o governo; a segunda metade apresentará argumentos favoráveis ao governo e contra Antônio Conselheiro.
O professor é o mediador do debate zelando para que não se perca o foco. Deve haver uma preparação antecipada de cada grupo para esta atividade. Ao final o professor junto com os alunos procura entender e explicar a Guerra de Canudos.
Cassemiro Luis
Educador
Referências:
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A Guerra de Canudos. Francisco Marins. São Paulo, Ática. Série "O Cotidiano da História".
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2 Comentários
Legal bem explicado mas falta o desfecho
ResponderExcluirOlá
ExcluirO desfecho é o que diz no trecho que fala da queda de canudos em "5 de outubro de 1897", embora Euclides da Cunha tenha romanceado este final dizendo que foram 4 defensores últimos, uma criança, um velho e dois homens feitos. Preferi omitir este parte por não ter valor histórico. Também é de conhecimento que o exército executou vários que se renderam pacificamente na base da degola, por não ter como transportá-los e abrigá-los. Preferi deixar somente os fatos históricos mais importantes. De qualquer forma, tem muito material sobre Canudos, é uma parte da história do Brasil esquecida.
Att
Cassemiro Luis
- Professor de Filosofia e História -